CIÊNCIA E IDEOLOGIA

POR UMA CIÊNCIA COMPROMETIDA COM O PROGRESSO SOCIAL E COM O DESENVOLVIMENTO HUMANO

Autores

  • Cláudio Nei Nascimento da Silva cnns77@gmail.com
    IFB

DOI:

10.36732/riep.v3i1.73

Palavras-chave:

Ciência, Educação, Autonomia

Resumo

Ciência e ideologia são instâncias bem delimitadas, embora, no campo prático, possa haver uma indesejável contaminação da primeira pela segunda. A ciência pode ser caracterizada, em primeira análise,  como um método de investigação da verdade baseado na objetividade e na sistematicidade, levado a cabo por pessoas que possuem valores, desejos e convicções, o que faz da objetividade apenas um horizonte a ser perseguido. Já ideologia, em seu sentido moderno, refere-se a “uma doutrina mais ou menos destituída de validade objetiva, porém, mantida pelos interesses claros ou ocultos daqueles que a utilizam” (ABBAGNANO, 2007, p. 532). Nesse sentido, toda vez que um grupo tenta subverter os propósitos científicos a propósitos específicos, quem perde é toda a sociedade, uma vez que o progresso da ciência deve estar ancorado no progresso humano e sua razão de ser é o desenvolvimento de estratégias de superação das dificuldades decorrentes da condição humana no mundo. É claro que leva vantagem aqueles que se encontram numa posição privilegiada, pois, “a ideologia dominante do sistema social estabelecido se afirma fortemente em todos os níveis, do mais baixo ao mais refinado” (MÉZÁROS, 2004, p. 59).   Ao refletir sobre as implicações da  política na ciência, Stokes (2005, p. 140) afirma que “só se poderão construir agendas de pesquisa básica inspirada pelo uso por meio da conjugação de avaliações bem fundamentas das promessas da pesquisa e das necessidades da sociedade”. A ligação entre ciência e governo é por demais complexa e deve ser tomada com o mais absoluto cuidado, já que os governos se constituem de um grupo de pessoas, com certa convicção política e ideológica que, ocupando posição de liderança, possuem a prerrogativa (facilmente questionável) de representar “as necessidades da sociedade”. Se considerarmos que nas democracias os governos são alternados por diferentes grupos, a aplicação da visão de um determinado grupo nas ações governamentais corre um sério risco de ser ideológica e conveniente e, portanto, deletéria. É por isso que consideramos urgente o fortalecimento da autonomia da ciência, desde que esta esteja comprometida com a produção de conhecimento e com o desenvolvimento de tecnologias que se voltem para a melhoria da vida humana em todas as suas dimensões. Portanto, as distinções comumente difundidas na sociedade entre pesquisa básica e pesquisa aplicada; ciências humanas, sociais e exatas;  ciências flexíveis e ciências rígidas devem deixar de existir já que todas as áreas temáticas da ciência se ocupam da compreensão do real em toda a sua complexidade.  Por outro lado, o desenvolvimento ou fortalecimento da autonomia de uma determinada área da ciência não se dá, exclusivamente, por forças internas a esta área. Como chama a atenção Bourdieu (1997, p. 65), “por maior que seja a autonomia do campo, o resultado destas lutas nunca é complementarmente independente de fatores externos”. Há sempre uma convergência de fatores que possibilitam o fortalecimento ou não de uma determinada área cientifica. Nesse sentido, quando se defende a descontaminação da ciência pela ideologia (ou ideologias), há de se pensar também que esse movimento de isentar a prática científica de determinadas influências descomprometidas com uma perspectiva humanista deve ser também um movimento de toda a sociedade, já que a ciência constitui uma plataforma que dá sustentação a diferentes setores, como a educação, a saúde, a indústria, a economia etc.

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Biografia do Autor

Cláudio Nei Nascimento da Silva, IFB

Doutor em Ciência da Informação (UnB/UC3M). Mestre em Educação (UCB). Pedagogo. Professor do Instituto Federal de Brasília (IFB) no curso de Licenciatura em Química e no Mestrado em Educação Profissional (ProfEPT).

Referências

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOURDIEU, P. Razones prácticas. Barcelona: Anagrama, 1997.

STOKES, D. E. O quadrante de Pasteur. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2005.

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Publicado

2021-06-23

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Como Citar

SILVA, Cláudio Nei Nascimento da. CIÊNCIA E IDEOLOGIA: POR UMA CIÊNCIA COMPROMETIDA COM O PROGRESSO SOCIAL E COM O DESENVOLVIMENTO HUMANO. Revista Nova Paideia - Revista Interdisciplinar em Educação e Pesquisa, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 1–2, 2021. DOI: 10.36732/riep.v3i1.73. Disponível em: https://ojs.novapaideia.org/index.php/RIEP/article/view/73. Acesso em: 3 maio. 2024.

Edição

Seção

Editorial

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